Armando Guebuza disse que não conhece Teófilo Nhangumele e acusou Óscar Monteiro de promover a “caça às bruxas”


No recente conclave da Frelimo em reunião de Comité Central, o antigo Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, disse que não sabia quem era Téofilo Nhangumele, um dos réus detidos preventivamente no processo das “dívidas ocultas” e que teve parte do seu património confiscado por ordens do Ministério Público no âmbito do processo 1/PGR/2015. Um dos detidos, como se sabe é Ndambi Guebuza, filho de Armando.
Guebuza respondia, em tom meio revoltoso, a uma pergunta eventualmente colocada por Óscar Monteiro sobre como é que ele, Guebuza, se deixara “enganar” por Nhangumele, conotado como o cérebro do estratagema que descambou no famigerado calote.
“Carta” está na posse de um áudio onde se pode ouvir Guebuza se desdobrando em lamúrias por causa da sugestão de que ele de deixara enganar por Nhangumele. A narrativa vigente, alicerçada no “indictiment” americano contra Manual Chang et al, é a de que Teófilo terá, através de Bruno Langa Tandane, levado o projecto ao conhecimento de Ndambi Guebuza, que o terá mostrado ao pai e este deu luz verde para que o SISE “comprasse” a ideia. Daqui pode depreender-se que Nhangumele, por via de Ndambi, terá enganado Guebuza.
Mas o antigo estadista considera a suposição, colocada por Óscar Monteiro a jeito de pergunta, como o início de uma alegada “caça às bruxas” na Frelimo. Depois de repetir copiosamente que a “Frelimo é nossa”, Armando Guebuza, com convicção aparentemente inabalável, disse: “Eu não conheço Nhangumele. Vi o nome de Nhangumele pela primeira vez na lista daqueles que estavam detidos”.
“O camarada Óscar foi enganado para vir aqui dizer que eu conheço Nhangumele (Teófilo), que eu deixei Nhangumele enganar-me. Eu não conheço quem é Nhangumele, não trabalhou na Presidência da República. Se trabalhou foi sem meu conhecimento e aquilo que eu conheço de Nhangumele é aquilo que aparece nas redes sociais e nos jornais”.
Sua intervenção aponta para uma figura cada vez mais isolada no partido. Ele se queixou da falta de unidade na Frelimo mas vincou que não fazia sentido que se começasse hoje a julgar um mandato passado. O áudio, e pelo tom combalido de Guebuza, mostra que o conclave da Frelimo não foi sem ondas violentas. Houve momentos de crispação aguda, apesar dos apelos de Filipe Nyusi, que dirigiu todas as fases da reunião, para que os seus pares não a transformassem num campo de violência psicológica.
Filipe Nyusi concedeu a palavra ao “camarada Armando Guebuza” para este tecer comentários em torno dos relatórios apresentados e responder às questões colocadas por alguns membros sobre as decisões que tomou quando era Chefe do Estado. Eis Guebuza, dixit!:
“ Pedi a palavra para pôr duas questões pequenas. A primeira tem a ver com o que está no relatório da Comissão Política. E tem uma coisa que tenho dito várias vezes, que é que devemos valorizar o pensar diferente. Eu penso que devíamos encontrar outra formulação, pois praticamente estamos a dizer que o bom militante é aquele é diferente de nós. Isso leva à ideia de que aquele que pensa igual, como nós pensamos, não deve ser valorizado. Então, penso que devíamos encontrar uma outra formulação que acomodasse e não recusasse ouvir com atenção necessária mesmo aquele que pensa diferente de nós ”.
Esta é apenas uma parte da transcrição do áudio de Armando Guebuza. Outros excertos serão publicados em próximos artigos. (Cartamz)

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