Samora Machel Junior ("Samito"), filho do primeiro presidente de Moçambique, Samora Moises Machel, acusou o Presidente do partido da Frelimo, Filipe Nyusi, de "violação grosseira" dos estatutos da Frelimo, informa o jornal independente "Carta de Moçambique ”
Machel respondeu a uma recomendação de inquérito disciplinar, na qual os dois relatores (Francisco Cabo e Filipe Sitoe) disseram que ele deveria ser expulso da Frelimo devido ao seu comportamento durante as eleições municipais de outubro de 2018, onde ele foi candidato a prefeito de uma organização da sociedade civil, AJUDEM (Associação Juvenil para o Desenvolvimento de Moçambique).
Isto colocou Machel Junior contra o candidato oficial da Frelimo, Eneas Comiche, um ex-prefeito de Maputo e na altura da eleição o presidente da Comissão Parlamentar do Plano e Orçamento.
Machel tinha a intenção de concorrer como candidato da Frelimo, e afirma que, nos estágios iniciais das eleições internas do partido, ele gozava do apoio de todos os comités do distrito urbano da Frelimo. Mas o seu nome foi removido e a Comissão Política da Frelimo optou por Comiche como candidato.
Machel respondeu aceitando o convite da AJUDEM para se tornar o candidato a prefeito da Associação. Mas a Comissão Nacional de Eleições (CNE) desqualificou o AJUDEM porque não tinha candidatos suficientes para preencher todos os lugares disponíveis na Assembleia Municipal de Maputo. Os funcionários da AJUDEM responderam que isso foi porque pressionou seus membros a retirar seus nomes.Em sua defesa, contra a investigação disciplinar, Machel disse que ele era o único dos pré-candidatos a prefeito que cumpriu todos os requisitos do Partido. Apesar disso, ele foi excluído, nem Nyusi nem o secretário geral do partido, Roque Silva, lhe daria uma explicação.
Só então aceitou o convite do AJUDEM, porque ficou claro para ele que a Frelimo e os seus principais líderes não estavam a cumprir as directivas internas do partido.
A acusação principal contra Machel é que ele violou um artigo nos estatutos da Frelimo que afirma que nenhum membro da Frelimo “pode ser um candidato para qualquer função de outro partido ou organizações se associar ou depender deles sem a devida autorização dos órgãos competentes da Frelimo”.
Machel argumenta que isso não cobre a AJUDEM, que não é um partido político ou uma organização associada a um partido. "Nós não precisamos de autorização", afirmou.
Machel também disse que tem provas de que "crimes eleitorais" foram cometidos para garantir que a CNE desclassificasse o AJUDEM. A exclusão, afirmou, gozava de “a bênção da liderança da Frelimo a vários níveis”.
A acusação da audiência disciplinar também acusou Machel de violar a disposição estatutária sobre “Liberdade de Opinião e Crítica”. As pessoas que realmente deveriam enfrentar essa acusação, ele retrucou, são Nyusi e Roque Silva “por não permitir críticas, não estimular o diálogo e não reconhecer os direitos constitucionais dos membros”.
Machel alargou o âmbito do seu ataque, alegando que Nyusi era culpado de uma “violação grosseira” dos estatutos da Frelimo em Niassa, Nampula e na cidade de Maputo. Os estatutos dizem que os líderes do partido são eleitos democraticamente por voto secreto - mas os novos secretários provisórios da Frelimo em Niassa, Nampula e Cidade de Maputo não foram eleitos, mas simplesmente nomeados pela Comissão Política.
A acusação contra Machel também alega que ele falhou em seu dever de "defender os interesses nacionais" e "promover e consolidar a unidade nacional". Ele descreveu isso como “uma acusação vil” e sugeriu que era Nyusi quem deveria provar que cumpriu esses deveres.
Ele pediu ao principal órgão disciplinar do partido, a Comissão de Verificação do Comitê Central para verificar se Nyusi está defendendo a coesão interna e a unidade do partido, e até sugeriu que o Nyusi deveria ser suspenso por “grave violação” dos princípios da Frelimo.
Machel advertiu que, se for expulso da Frelimo, isso terá consequências negativas para a democracia interna do partido. “Depois dessa expulsão, quem ousaria criticar o comportamento dos líderes?”, Perguntou ele.
Este ataque do filho do primeiro presidente do país contra o atual presidente dificilmente pode ter vindo em pior hora, já que a Frelimo se prepara para as eleições gerais marcadas para 15 de outubro.
É provável que a defesa de Machel seja considerada na próxima reunião da Comissão de Verificação, que poderia tentar acalmar as coisas. Não é provável que seja discutido na reunião completa do Comitê Central, marcada para maio.
Fonte: AIM