Raimundo Macomia, 32 anos, fugiu de casa com a mulher e quatro filhos, minutos antes de um coqueiro ser derrubado pelo vento e a destruir na aldeia de Muangamula, distrito de Macomia, no olho do ciclone Kenneth.
“As crianças não conseguiam correr e choravam”, no meio da escuridão, sob um ruído assustador de ventos ciclónicos, chapas de zinco e outros materiais a voar e a bater uns nos outros.
“Eram quatro crianças, ao colo e pela mão” do pai e da mãe, a chorar, a correr sem ver para onde, em busca de abrigo – acabaram na casa da vizinha que, apesar de danificada, foi das poucas que ficou de pé.
Faustino Ponda, 68 anos, teve tarefa ainda mais difícil: com a esposa, tinha em casa sete crianças e todos correram para a rua, antes de ouvirem a construção de estacas e barro abater-se sobre si própria.
“Algumas crianças mais velhas fugiram e conseguimos agarrar os mais novos” para se esconderem todos no descampado e dormirem no chão, à espera que a tempestade passasse.
Nos céus, o ciclone Kenneth dissipou-se no sábado, mas só o tempo dirá o que irá persistir na memória das crianças que viveram uma noite de pesadelo.
O ciclone Kenneth foi o primeiro, desde que há registos, a atingir o Norte de Moçambique, onde provocou cinco mortos, segundo número oficiais e numa altura em que ainda decorrem levantamentos em zonas mais remotas.
Quase 3.500 casas foram parcial ou totalmente destruídas, pelo menos 16 mil pessoas foram afetadas pelo ciclone e há mais de 18 mil pessoas em 22 centros de acomodação.